O samba é geralmente definido como um gênero de música e coreografia. Claro, a definição pode ser ampliada. Mais do que música e dança, o samba é também um sistema que ordena o mundo. Em torno do samba, as pessoas cantam, dançam, comem, bebem, amam, brincam, celebram, rezam, louvam os antepassados e criam laços de identidade e redes de proteção social.
Foi dos recursos culturais da comunidade do samba que nasceu o novo trabalho de Diogo Nogueira, “Sagrado”. Ao longo das oito músicas do álbum, a herança ancestral do Batuk circula, saindo das costas da África e redefinindo os terreiros, esquinas, montanhas e calçadas do Brasil, celebrando a vida como uma experiência de alegria e liberdade. Originário das culturas da diáspora africana, o samba baseia-se em dois princípios fundamentais: a crença de que não há oposição entre o sagrado e o secular, mas sim que a unidade duradoura é possível e que a vida só tem sentido quando é partilhada. Cerveja gelada, sabor de amendoim, sorrisos nos rostos dos cabriolés, cantigas de festa e brincadeiras infantis enquanto o coral janta em roda refletem a integração entre matéria e espírito, presente e passado, tradição e futuro.
A roda do Candomblé gira sempre no sentido horário. Ao inverter simbolicamente o tempo linear, afirmam a necessidade do reencontro constante com o passado para que o presente faça sentido e o futuro possa ser enquadrado numa perspectiva mais generosa. Homenageando neste disco o legado do pai, relembrando as raízes suburbanas, a infância festiva e celebrando no samba as alegrias partilhadas da vida, Diogo Nogueira acena para o passado, fala para o presente e aponta bem. Começa a sua canção como uma flecha. De Oxóssi – rumo a uma nova geração.