O álbum de Bixarte chega em 200 mil plays em apenas 15 dias, o quanto isso representa? A cantora é uma mulher travesti paraibana, foi contemplada pelo edital da casa Natura e utilizou o recurso para investir em sua obra, que convenhamos, está a coisa mais linda.
O TRAVIARCADO nada mais é que um álbum cheio de poesias, histórias é muito mais, composto por 9 faixas e quando você ouve, te deixa com um gostinho de quero mais.
- Maria Padilha
- Kettu
- Boyzin
- Bibi Perigosa
- Surreal
- Preta cara
- Carta de advertência
- Pitbull sem coleira
- Xica Manicongo
O lançamento ocorreu no Sesc Pompeia, em São Paulo, com direito a casa cheia e todo mundo cantando as músicas que tinham acabado de sair, o AgitoPOP pode conversar um pouco com a Bia que nos fez nos apaixonar mais ainda por essa grande artista.
Quem é Bixarte?
Bixarte é um movimento de força que nasce dentro de mim na necessidade da minha existência. É uma legião de pessoas que acreditam em um propósito só, que é o propósito do amor, o propósito da cura, o propósito da arte, o propósito da rebeldia quando necessário. É isso que Bixarte significa para mim.
Como foi a criação do seu primeiro álbum de estúdio? A escolha dos feats (eu já tenho minha favorita)
Eu começo em 2020 as composições desse disco. Eu fiz no total 16 faixas para escolher 10 e todos os feats foram pensados muito mais do que na amizade, mas por serem referências vivas. Eu sempre quis homenagear muitas dessas pessoas que estão no meu álbum, mas eu queria homenageá-las vivas, não queria que elas morressem para fazer uma música chamando elas, falando delas ou com a voz delas. Eu queria poder fazer isso em vida, então TRAVIARCADO tem muito essa linguagem de vida. É uma obra muito para cima e que fala muito sobre a questão da vida em si, do querer viver e desbravar outros lugares. A ideia das ordens foi meio que um sonho para mim: eu deitei, fui ouvindo, fui entendendo em que momento cada música se adequaria à minha vida e assim eu fui seguindo para que as outras pessoas pudessem sentir também.
Quais foram as dificuldades e os prazeres de ver esse lançamento acontecer?
Eu acho que a maior dificuldade que temos é muito mais do que fazer, é lançar, é trabalhar o lançamento. Vivemos em uma mídia mainstream que é branca e extremamente cisgênera. Então quando uma travesti preta ousa brincar com o pop, ousa brincar com o hip hop, a nossa maior dificuldade sempre é trabalhar o lançamento. É o entrar nas rádios, nos portais, é fazer nossa música tocar em uma novela, é querer fazer visuais e não ter grana. Então, assim, é muita coisa. Esses são os meus maiores desafios.
Quais suas expectativas com o TRAVIARCADO e onde você pretende leva-lo?
Eu quero que o TRAVIARCADO me leve, não sou eu que vou me levar. Essa obra vai me levar para um espaço que sempre sonhei em estar. Um espaço de poder. E eu nem estou falando de “poder” no sentido de “mandar”, mas no “poder” de “ficar”. Ficar viva. O TRAVIARCADO vai me levar para uma estabilidade emocional. Inclusive por causa dessas músicas hoje consigo entender muita coisa do meu corpo. Então acho que esse álbum vai levar as pessoas para lugares altos, lugares de poder, lugares de afeto, lugares de cura e isso tudo depende muito da nossa escuta. Então escutem o TRAVIARCADO com os ouvidos abertos e as mentes também para que você possa ser levado para um lugar de cura e de amor.
Para finalizar, deixaria um recadinho para todes que te acompanha? Qual sua mensagem para o mundo?
Para todo mundo que me acompanha, eu desejo que vocês continuem na missão porque tem que ter fé para continuar. Não é fácil. Mas que vocês também entendam que vocês não estão sozinhes, mesmo que longe, estamos perto, estamos juntes. Meu sonho só faz sentido porque vocês sonham comigo, então que vocês também peguem esse fôlego de vida e comecem a sonhar sonhos maiores, mais altos, porque quando transformamos nossas dores em quilombo, nós realizamos.
Estamos muito felizes com a trajetória que o TRAVIARCADO vem tomando, que esses números só cresçam, esse é o desejo da família Agito para a Bixarte.